A leitura das presentes "Conferências de Filosofia" vem certamente enriquecer a questão de fundo que lhes serve de motivo inspirador, nó górdio que a todos interpela e que Kant considera a questão filosófica decisiva: o que é afinal o Homem? Com efeito, a humanidade sempre se apresenta a cada homem concreto que a forja como uma questão complexa, intrigante, senão mesmo contraditória. Contradição que se torna paroxística na tragicidade das convulsões que flagelam o nosso século e que, infelizmente, não dão sinais de desanuviamento. Daí que ao filósofo se peça hoje, com suma pertinência, que pense o acontecimento, que "ensine" a deslindar o sentido do que andamos a fazer. A aceitação deste desafio levou Kostas Axelos, Bernard Bourgeois, Blandine Kriegel, Jean Galard, Nicolas Grimaldi e Jacqueline Lagrée, pensadores franceses de craveira internacional, a proferirem, ao longo do ano de 1998, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, as seis conferências que neste livro se publicam. (Maria José Cantista) Na sua colecção Campo da Filosofia, a editora Campo das Letras, em colaboração com o Gabinete de Filosofia Moderna e Contemporânea do Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, integra uma linha editorial específica intitulada Nous, que se iniciou com a publicação do I tomo das "Conferências de Filosofia". Nous significa para o grego genericamente o Espírito e, mais precisamente, a faculdade humana de pensar, o intelecto activo, só ele capaz de se comensurar com a realidade como um todo. A descoberta desta faculdade humana marca na Grécia o começo do filosofar e da filosofia. Pela actividade noética, o pensamento plasma-se objectivamente; é a entidade por antonomásia, ou seja, a entidade plena de inteligência, capaz de penetrar no sentido humano e mesmo de reger os seus processos. Pela íntima relação do Nous com a filosofia não só na Grécia, mas ao longo da sua história, assinalamos esta colecção com o referido vocábulo, que se corresponde, por outra parte, com uma realidade.