«A física actual convida-nos a separar duas noções outrora designadas pela palavra “realidade”. Uma é a de realidade independente. Pela própria definição, a noção em questão cobre o conjunto daquilo que é (se Deus existe, ou se o mundo existe em si, eles são reais neste sentido). Esta realidade é longínqua, até mesmo velada. A outra noção é a de realidade empírica, ou conjunto dos fenómenos: o homem aborda-a cada vez melhor. Poderemos evitar algumas destas noções? Muitos acreditam que sim porque, no passado, muitos filósofos e físicos esforçaram-se por demonstrar que tal era possível, alguns eliminando a primeira com o pretexto de que não tem sentido, outros reconduzindo a segunda noção à primeira (...). A minha tese é a de que é a própria ciência que – corrigindo-se a si própria – fornece, hoje em dia, ao pensador razões prementes para aceitar a dualidade filosófica do ser e do fenómeno. É esta a concepção de que será recordado, ao mesmo tempo que sublinhado (isso é evidentemente necessário), o carácter quase constrangedor do ponto de vista da física actual. Quais os seus laços com a teoria geral do conhecimento, com os debates a propósito do indeterminismo, com os novos desenvolvimentos a propósito do irreversível, do muito complexo, da duração? Terá ela incidências em problemas sempre classificados como “filosóficos”, tais como o da relação da consciência com as coisas visíveis, ou o da natureza da liberdade? A obra tem por objectivo, também, aprofundar estas questões. Sendo o meu objectivo alcançar uma concepção da realidade que esteja em harmonia com o nosso saber presente. Para este fim, as questões de epistemologia geral, tanto aquelas que são relativas ao carácter quântico das leis de base, como aquelas que são conducentes à complexidade, são particularmente aprofundadas. No essencial são elas que definem a estrutura da presente obra e, em consequência disso, os seus eixos de investigação recortam domínios de interesse actual.»