Agora é a sua vez, também lá esteve. Tem obrigação de escrever as suas memórias" - enquanto é tempo, pensei eu. Respondi-lhe que para o fazer precisaria de ajuda ao que imediatamente se disponibilizou para me dar: "Procure-me quando quiser". Vim para casa a matutar naquilo, custou-me muito adormecer nessa noite e nas seguintes, agarrei no computador e a parede que se tinha posto na minha frente em 2016 caiu como uma folha de papel. Como muitos outros antigos companheiros de armas (e de infortúnio), que em Angola, na Guiné e em Moçambique, interpretaram os derradeiros episódios do ciclo imperial português, Manuel Costa Lobo quis registar a sua experiência e a dos seus camaradas mais próximos, tal como, consciente e inconscientemente, as suas memórias lhe autorizaram fazer, volvidas mais de quatro décadas e meia sobre os acontecimentos. Escolheu para tal um cenário que lhe era naturalmente familiar e que se transformou no fio condutor seguro e mesmo na estrutura que sustenta o livro: o Biambe, lugar situado bem no interior da antiga colónia/província da Guiné, que deveu a sua existência quase em exclusivo à fixação, nesse local, de sucessivas unidades do exército português. O sítio constituiu-se, assim, em intérprete principal, em entidade incontornável de onde toda a acção parece partir e para onde tudo parece convergir.